Manual da concordância verbal

Há alguns dias tive uma discussão com uma colega, que escreveu a seguinte frase “o fundo branco, de vigorosas pinceladas, talvez sejam indícios de reflexos de paisagens que estão veladas”. Eu a corrigi, dizendo que tanto o verbo “sejam” como o substantivo “indícios” deveriam estar no singular, pois concordam com o sujeito “o fundo branco”.

Ela custou a ceder, porque não era esse o sentido que ela queria para o texto. Depois de muito discutir, optamos por alterar a frase para “as vigorosas pinceladas no fundo branco talvez sejam indícios de reflexos de paisagens que estão veladas”. Assim, o sujeito passaria a ser “as vigorosas pinceladas”, o que justifica o uso do plural nos demais elementos.

Por causa da confusão dessa minha colega, decidi criar um “Manual de Concordância” dividido em duas partes: uma para concordância verbal e outra para concordância nominal. Coincidentemente, um leitor aqui do Blog, o Edmar Calixto, sugeriu uma postagem sobre concordância do verbo “ser”, que também faz parte do conteúdo.

Os autores que pesquisei para esse manual foram Bechara (2015) e Bezerra (2017). Selecionei apenas os casos mais passíveis de dúvidas (que já são muitos). Se sua dúvida não estiver aqui, você pode me perguntar nos comentários ou comprar o livro de Português para Concursos do Bezerra clicando aqui e do Bechara clicando aqui.

No final, você pode testar seus conhecimentos sobre concordância verbal com algumas questões para concursos que selecionei e comentei.

Vamos ao conteúdo? Bom estudo!

CONCORDÂNCIA VERBAL

A concordância verbal é a flexão, em número e pessoa, do verbo (ou do predicativo) em relação ao sujeito da oração. Exemplo de flexão:

A mulher olhou para mim.” (o verbo “olhou” concordou com o sujeito singular “mulher”)
As mulheres olharam para mim.” (o verbo “olharam” concordou com o sujeito plural “mulheres”)

O sujeito pode ser simples ou composto. Ele é sujeito simples quando é um único elemento que identifica o sujeito (um substantivo, um nome próprio, entre outros). Ele é sujeito composto quando são dois ou mais elementos que identificam um único sujeito. Exemplos:

Maria chega à cidade amanhã.” (Sujeito simples: Maria)
Dinheiro e fama eram rotineiros para mim.” (Sujeito composto: dinheiro e fama)

CONCORDÂNCIA DE PALAVRA PARA PALAVRA

Ocorre a concordância de palavra para palavra quando a flexão segue regras que obedecem à forma da palavra ou à função de cada elemento. A concordância pode ser total (considerando a totalidade de sujeitos, mesmo que no singular) ou parcial (concordando, por atração, com o sujeito mais próximo). Veja alguns casos a seguir.

1) O verbo sempre vai concordar com o sujeito. Mesmo se o sujeito for um coletivo, se ele for simples e estiver no singular, o verbo vai permanecer no singular. Se for simples e plural, o verbo vai para o plural. Exemplos:

Povo que não cobra governo, perde o que já tinha e o que podia ter.” (“povo” se refere a mais de uma pessoa, mas a palavra está no singular, por isso o verbo “perde” concorda com a palavra)
“Os leigos, achando que sabem tudo, convencem os sábios que acham que não sabem nada.” (sujeito no plural = verbo no plural)

2) Se o sujeito for composto, havendo mais de um sujeito (ainda que sejam descritos no singular), o verbo fica no plural, mas também pode acontecer a concordância em relação à determinada mais próxima, principalmente se ela estiver após o verbo.

Vale ressaltar que, se o sujeito for composto por dois singulares, mas um dos singulares for um adjunto adverbial de companhia, isolado entre vírgulas, é opcional flexionar ou não o verbo no plural. Exemplos:

A poesia, assim como a música, encantam pela estética mais do que pela mensagem.” (o verbo “encantam” concordou com a totalidade dos sujeitos, que são dois singulares: “poesia e música”)
A poesia, assim como a música, encanta pela estética mais do que pela mensagem.” (Aqui há um sujeito composto: “a poesia, assim como a música”, mas o segundo substantivo no singular está dentro de um adjunto adverbial de companhia, isolado entre vírgulas, o que permite que o verbo permaneça no singular, considerando, como sujeito, apenas “A poesia”. Se invertermos a frase, fica mais claro: “Assim como a música, a poesia encanta mais pela estética do que pela mensagem”)
“Ao Rei respeita o povo e também os súditos.” (o verbo “respeita” concordou por atração com o sujeito mais próximo: “povo”)

OBS: Se o segundo substantivo for consequência do primeiro ou se os dois substantivos juntos tiverem função de um único elemento, o verbo pode ficar no singular. Exemplos:

“A doença e morte de minha avó me deixou abalada.”
“O entra e sai dos alunos irrita os professores.”

CONCORDÂNCIA DE PALAVRA PARA SENTIDO

A corcordância de palavra para sentido acontece quando a função do elemento é colocada em segundo plano para respeitar o seu sentido, ainda que fuja às normas tradicionais. Veja alguns casos.

1) O verbo pode ir ao plural mesmo com um sujeito no singular, se esse sujeito representar uma coletividade. Essa flexão, no entanto, está condicionada à pertinência estética, já que soa desagradável construções como “a gente vamos” ou “o povo trabalham”. É preferível que o verbo flexione apenas se tiver distância suficiente desse sujeito, diminuindo, assim, a estranheza. Exemplos:

O povo se acostuma com o declínio político que os destrói, sem ao menos contestarem.” (o primeiro verbo concordou com a palavra, permanecendo no singular. O segundo verbo, concordou com o sentido, flexionando no plural, mas porque já tinha certa distância do substantivo “povo”)
A gente vai hoje ao juri e certamente seremos ouvidos.” (O sujeito “a gente” é singular, por isso o verbo “vai” está concordando com ele, no singular. Já o verbo “seremos”, assim como o particípio “ouvidos”, estão no plural porque acompanham o sentido que o sujeito carrega, de se referir a mais de uma pessoa. Normalmente, os verbos ou adjetivos que aparecem imediatamente na sequência ou antecedento o substantivo concordam com a forma dele)

2) Se o sujeito composto for constituido de mais de um pronome pessoal no singular, o verbo precisa concordar com o conjunto. Exemplos:

“À rainha reverenciamos ela, ele e eu.” (O verbo foi para a primeira pessoa do plural porque os sujeitos têm o mesmo sentido de “nós”)
Tu e os outros palhaços amedrontais nossa comunidade até hoje.” (O verbo foi para a segunda pessoa do plural porque o sujeito composto tem sentido de “vós”)

OUTROS CASOS

Seguem algumas outras situações que se diferenciam das acima mencionadas.

1) Sempre que o sujeito composto tiver dois sujeitos singulares ligados por elementos que dão a ideia de adição (“e”, “tanto quanto”, “assim como”, “nem”, “com”, entre outros), o verbo tem a opção de concordar no plural ou concordar com o sujeito mais próximo, mas sempre obedecendo ao critério estético. Exemplos:

Tanto Marquesine como Anitta já beijaram Neymar.”
“Marquesine, assim como Anitta, já beijou Neymar.”
“Você, com sua família, embarcarão na próxima terça.”
Nem eu nem ela vimos um ao outro antes da cerimônia.”

OBS: Quando a expressão que usa “nem” estiver acompanhando os pronomes indefinidos “um” e “outro”, o verbo fica no singular. Exemplo:

Nem um nem outro compareceu ao julgamento.”

2) Quando os sujeitos forem ligados por “ou”, o verbo só vai ficar no singular ou concordar com o sujeito mais próximo em três ocasiões: quando a preposição “ou” indicar exclusão (uma opção exclui a outra), quando indicar retificação (é usada uma palavra, mas dependendo de algum fator pode ser outra) ou quando indicar equivalência (substitui “em outras palavras”, com intenção de mostrar que significam a mesma coisa). Exemplos:

Ou o namorado ou o irmão vai poder viajar com ela dessa vez.” (Exclusão)
“Espero que seu filho ou filha nasça saudável.” (Retificação)
“Nosso pai, ou nosso herói, é sempre atencioso e generoso.” (Equivalência)

OBS: Já quando a conjunção “ou” entre dois sujeitos se referir a uma totalidade ou der ideia de adição, assim como falado no tópico anterior (2), o verbo preferencialmente vai para o plural, mas pode aparecer no singular. Exemplo:

“O descumprimento ou abuso do contrato anularão sua validade.” (Ambos anularão)

3) É opcional flexionar ou não o verbo quando em seu sujeito vierem as expressões “a maioria de“, “a maior parte de“, “parte de“, “grande parte de“, entre outras no singular, seguidas de um elemento no plural. Exemplos:

A maioria dos homens gosta de beber cerveja.”
A maior parte dos homens gostam de beber cerveja.”

4) Se o sujeito carrega a expressão “cada um de“, o verbo fica sempre no singular. Exemplos:

Cada um deles pediu desculpas.”
Cada um de nós carrega bagagens.”

5) Na expressão “mais de um“, normalmente o verbo deve ficar no singular, mas é permitido ir para o plural concordando com o sentido, embora seja pouco usual. Exemplos:

Mais de um homem bebeu nesta casa.”
“Garanto que há mais de um que não entregaram sua honra por dinheiro.”

6) Na expressão “que de“, quando significam “quanto de”, seguida de um substantivo no plural, o verbo deverá ir para o plural. Exemplo:

Que de forças existem no coração materno.”

7) Nas expressões “quais de“, “quais dentre“, “quantos entre” ou outras equivalentes, o verbo deverá ir para o plural para concordar com o pronome. Mas em “qual entre vós“, fica no singular, também respeitando a concordância com o pronome. Exemplos:

Quais de vocês se identificam com o que eu disse?”
Quantos entre eles vão aceitar a pena e continuar vivos?”
Qual dentre vós é o mais corajoso?”

8) Se o que antecede o pronome relativo “que” for um predicativo, ou seja, se complementa a oração principal ou é adjetivo dela, é optativo concordar o verbo da oração adjetiva com o sujeito da oração principal, mas só se não fizer questão de estabelecer uma relação de intimidade clara entre predicativo e sujeito. Exemplos:

Eu fui a primeira que consegui decifrar esse código.”
Eu fui a primeira que conseguiu decifrar esse código.”

9) Com o pronome “quem”, o verbo da oração subordinada pode ir para a 3ª pessoa do singular, independentemente do que o antecedeu, ou pode concordar com esse antecedente, dependendo da intenção de quem está enunciando. Exemplos:

“Eram as pessoas e os animais quem fazia ele se apaixonar cada vez mais pelo lugar.”
“Eram as pessoas e os animais quem faziam ele se apaixonar cada vez mais pelo lugar.”
Quem fazia ele se apaixonar cada vez mais pelo lugar eram as pessoas e os animais.”

10) Na expressão “um dos que”, é optativo concordar o verbo com o seletivo “um” ou com o termo sujeito no plural, a não ser que o verbo só se aplique a aquele sujeito singular específico. Exemplos:

Ele era um dos que mais reclamavam no quartel.”
Um dos soldados que mais reclamava no quartel era ele.”
“Foi um dos seus soldados que reclamou de mim anonimamente ontem, só não sei quem”. (Não foram vários que reclamaram, apenas um, e como esse sujeito é específico, o verbo vai concordar com ele obrigatoriamente)

11) Nas orações em que o verbo é impessoal, ou seja, que não é nenhum sujeito que realiza ou sofre a ação, o verbo assume a forma da terceira pessoa do singular (essa é a regra, embora haja alguns casos poéticos em que o plural ocorre). Isso acontece, por exemplo, com os verbos “poder“, “ter”,haver” ou “dever“.

Mas quando o verbo é parte de uma locução verbal na condição de verbo auxiliar de um verbo pessoal, ele deve flexionar. Já se o verbo principal for impessoal, ou seja, não for uma ação realizada por algo ou alguém, o verbo auxiliar não flexiona. Exemplos:

Deve ter delatores entre nós.” (Aqui temos o verbo “dever” em uma locução verbal na condição de verbo auxiliar, porém o verbo principal “ter” é impessoal, pois não é alguém ou algo que tem alguma coisa. Não há um sujeito que tem. Nesse caso, o verbo auxiliar não flexiona)
“Se não houvessem nomeado governadores autoritários, seriamos livres.” (Aqui o verbo “houvessem” flexionou porque está cumprindo papel de verbo auxiliar de um verbo pessoal, que está se referindo a um sujeito oculto — o pronome “eles” — em uma locução verbal)
Há vários covardes nessa assembleia.” (Aqui o verbo “haver” é impessoal, pois tem o mesmo sentido do verbo “existir” ou “ter”, portanto não flexionou mesmo com o sujeito no plural)

OBS: uma dica para saber se o verbo principal é pessoal ou impessoal é ignorar o verbo auxiliar e observar se o verbo principal flexiona. Exemplo (usando os mesmos verbos acima):

“Se não nomeassem governadores autoritários, seríamos livres.” (Observe que o verbo “nomear” flexionou, por isso o verbo auxiliar pode flexionar, então é correto usar “houvessem nomeado”)
Tem delatores entre nós” (observe que não foi possível colocar o verbo “ter” no plural, que seria “têm”, pois não é um sujeito que tem alguma coisa. O verbo tem o mesmo sentido de “há”, portanto “tem”, aqui, é verbo impessoal, por isso, na locução “deve ter”, o verbo auxiliar não vai para o plural mesmo com um sujeito no plural)

12) Quando o verbo está na passiva nominal, a norma é que ele concorde com o substantivo que a gramática compreende como sujeito. O mesmo vale para o verbo no infinitivo com sujeito explícito. Porém os verbos “poder” e “dever” apresentam a possibilidade de ficar no singular mesmo com o sujeito no plural, se a intenção for de enfatizar. Exemplos:

Alugam-se carros.”
Aluga-se casa
“Corre o risco de se perderem as argumentações.”
Deve-se obedecer às leis.”

13) Quando houver locução verbal (dois verbos que têm função de apenas um), somente o verbo auxiliar (que especifica o verbo principal) concorda com o sujeito. Porém, os verbos “querer“, “poder” e “dever“, quando acompanhados do pronome apassivador se“, podem ficar no singular mesmo com sujeito no plural, principalmente para determinar um sujeito ou fugir da confusão entre pronome reflexivo/recíproco/passivo. Exemplos:

“Vocês podem voltar quando quiserem.”
“Eles puderam voltar mais cedo.”
Se deve celebrar os sucessos”.
Quer-se inverter os agentes.” (Na frase “querem-se inverter os agentes”, pode parecer que são os agentes que querem se alterar sozinhos, que ficaria estranho se a intenção é dizer que alguém de fora quer fazer isso, mesmo que seja um alguém coletivo)

14) Na expressão “não/nunca/ninguém… senão” ou “não/nunca… mais/menos que” em que o sujeito é indeterminado ou o verbo é acompanhado do pronome “se”, o verbo entre a expressão sempre vai concordar com o sujeito, a não ser que o sujeito/pronome esteja na primeira ou segunda pessoa, distanciados de “senão”. Exemplos:

“Não se enxergavam senão cadáveres.”
“Nunca se toleravam menos que famosos.”

15) Em títulos no plural, normalmente se flexiona o verbo relacionado a ele no plural, mas com o verbo “ser” e com predicativo no singular, o singular é permitido. Exemplos:

“Observo que as Cartas Persas têm o espírito das leis.”
“Concluí que as Cartas Persas é um livro fantástico.”

16) Quando um sujeito composto é seguido de expressões de valor distributivo como “cada qual” ou “cada um“, o verbo vai concordar com a expressão, ou seja, fica no singular. Mas se o verbo estiver logo após o sujeito e antes da expressão, concorda normalmente com o sujeito. Exemplos:

“Mãe e filha, cada uma seguiu seu caminho.”
Mãe e filha seguiram, cada uma, seu caminho.”

17)  Se o sujeito de um verbo for uma oração (também chamado de sujeito oracional) que tem um função de um substantivo no singular, esse verbo fica no singular. O singular também é regra para o verbo que tem duas ou mais orações coordenadas como sujeito. Exemplos:

“Aqui não se usa as noivas entrarem sem véu.” (uma dica para saber quando o sujeito é uma oração é se perguntar de acordo com o verbo: quem ou o que “não se usa”? Não poderia ser somente “as noivas”, porque não são as noivas que são usadas, então o sujeito é a oração inteira: “as noivas entrarem sem véu não se usa”)
Que ela estava vulnerável e ele expôs a vulnerabilidade dela é sabido.” (o que é sabido? Que ela estava vulnerável)

18) Nas expressões em porcentagem, o verbo concorda com a preposição que especifica a referência numérica. Exemplos:

“37% das mulheres brasileiras assistiram à Copa feminina.”
“99% da clientela elogiou o novo petisco.”

19) Os pronomes de tratamento, incluindo “você”, são considerados indiretos, portanto, apesar de indicarem a segunda pessoa do singular (tu), sempre o verbo que se refere ao pronome de tratamento vai conjugar na terceira pessoa do singular (ele). Exemplos:

Vossa Alteza poderás seguir com o plano em breve.” (Errado)
Vossa Alteza poderá seguir com o plano em breve.” (Certo)

20) O verbo “fazer”, quando tem sentido de tempo transcorrido, assume um caráter impessoal, portanto não flexiona. Exemplo:

Faz três noites que eu não durmo.”

CONCORDÂNCIA DO VERBO “SER”

O verbo “ser” é um caso especial, por isso merece uma seção à parte. Isso porque, apesar de normalmente concordar em número com o sujeito, há ocasiões em que ele pode concordar com o predicativo do sujeito, ou seja, com o termo que confere característica ao sujeito da oração. As ocasiões em que isso pode ocorrer são:

1) Quando o sujeito do verbo “ser” são as expressões “o resto“, “o mais“, ou um desses pronomes: “o que“, “quem“, “que“, “tudo“, “nada“, “nenhum“, “ninguém“, “isso“, “isto“, “aquilo“. Exemplos:

“Nem tudo eram flores.” (Perceba que, nessa construção, o sujeito da oração é o pronome “tudo” mas o verbo está concordando com o predicativo “flores”, que é quem adiciona informação/característica ao sujeito)
“Uma iniciativa deu certo, o resto foram tentativas.” (O sujeito da oração em destaque é a expressão “o resto”, mas o verbo concorda com o predicativo “tentativas”, que adiciona informação/característica ao sujeito)
O que eu mais gosto em você são seus olhos.” (Uma dica que não funciona com todas as orações, mas pode esclarecer melhor, é inverter a ordem. Se a frase fosse “Seus olhos são o que eu mais gosto em você”, o sujeito da frase seria “seus olhos”, o que justifica o verbo no plural)

OBS: O verbo pode até ficar no singular nesses casos, concordando com o sujeito, mas, embora permitido, esse é um uso mais raro e em alguns casos soa deselegante.

2) Quando o verbo “ser” carrega o sentido de “ser constituído por“. Exemplos:

O público-alvo eram os homens jovens.”
A previsão eram pacotes de macarrão e arroz.”

3) Quando o verbo “ser” é empregado impessoalmente, ou seja, sem sujeito, quando estiver designando horas, datas e medidas. Exemplos:

São duas horas.”
São dois quilômetros até a estação.”

OBS: o verbo pode (mas não é obrigado a) ficar no singular se o predicativo estiver precedido de “perto de” ou “quase“. Exemplos:

Era perto de duas horas.”
É quase dois quilômetros até a estação.”

4) Quando o verbo “ser” está nas expressões “é muito(a)“, “é pouco(a)“, “é tanto“, “é mais de“, especificando preço, medida, horas ou quantidade. Exemplos:

Quinze homens é muita gente para esse cômodo.”
Dez reais é pouco para essa camiseta.”

5) Nas expressões equativas (que expressam identidade) em que o verbo está entre dois substantivos de números diferentes (um no singular e outro no plural), o verbo poderá concordar com o que está no plural, mas pode permanecer no singular se for esteticamente melhor, como em frases que usam anáfora (repetições). Exemplos:

“Justiça não é limite, justiça são portas abertas para um futuro melhor.” (Concorda com predicativo)
“Justiça não é limite, justiça é portas abertas para um futuro melhor.” (Concorda com sujeito)

OBS: pode ser que, ao invés de “ser” apareça o verbo “parecer”, que tem o mesmo valor de sugerir identidade nesse caso. Exemplo:

“Essa enorme papelada parecem caixas de papelão de longe.” (Concorda com predicativo)
Essa enorme papelada parece caixas de papelão de longe.” (Concorda com sujeito)

6) Se o sujeito for um pronome pessoal, o verbo vai necessariamente concordar com ele, independentemente do predicativo estar no singular ou plural. Exemplos:

Ele era as dores dela.”
Ela era as vantagens da casa.”

7) Nas expressões “era um” ou “era uma“, em que o verbo “ser” é sinônimo de “existir“, típicas de início de narrações, o verbo concorda com o substantivo seguinte. Mas em “Era uma vez“, o verbo ficará sempre no singular. Exemplos:

Era uma casa muito engraçada.”
Eram sete anões em uma casa na floresta.”
Era uma vez sete anões em uma casa.”

8) Quando o verbo “ser” aparece na expressão “é que”, ele é impessoal, portanto não vai flexionar de acordo com o sujeito, mas se o verbo “ser” estiver afastado do “que”, a flexão é permitida. Exemplos:

“Nós é que somos avançados.”
“Estes móveis é que eu não compro.”
São de móveis assim que eu não sinto necessidade de comprar.”

9) Quando o verbo “ser” indica resultado de cálculos como “um mais um” ou de medidas como “uma dezena”, entre outros, o verbo vai concordar com o número do resultado. Exemplos:

Uma quinzena são quinze dias.”
Um mais um são dois.”
Dois menos um é um.”

10) Com a expressão “mais de um“, que sugere sujeito no plural, o verbo pode ser empregado no singular, inclusive é a forma mais comum, sendo o emprego no plural mais raro. Exemplos:

Mais de uma mulher está reclamando de assédio verbal na empresa.”
“Estou certa de que mais de uma pessoa não se intimidam com o chefe.”

 

CONCORDÂNCIA NOMINAL

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QUESTÕES DE CONCURSOS

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